terça-feira, 6 de abril de 2010
"TABACARIA" - Fernando Pessoa
"Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era
e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pregada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado,
já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história
para provar que sou sublime."
quarta-feira, 31 de março de 2010
Os programas de televisão anunciam, o tempo todo, as novidades do mercado.
Aparelhos que prometem o emagrecer os gordos sem que eles saiam do sofá.
Cápsulas que capturam as gorduras dos alimentos antes de elas serem absorvidas
pelo organismo. Injeções milagrosas que fazem crescer músculos em corpos magros.
Cirurgias que retiram as gorduras – ainda que ofereçam riscos – realizadas em
clínicas que não oferecem a menor condição de segurança ao “impaciente” que
procura por elas. Enfim, uma infinidade de promessas mágicas. (Pe. Fábio de
Mello em "Quem me roubou de mim?", ditora Canção Nova, 2008)
O Pe. Fábio de Melo é sempre muito inteligente em suas colocações. A frase acima citada nos alerta para o fato da grande ocupação que os indivíduos atualmente dedicam ao corpo: se somos gordos devemos ser magros, se temos a pele branca, ela deverá ficar morena. Se o cabelo é cacheado devemos alisá-lo. Parece que o descontentamento com a aparência física é normal porque ela é sinônimo de felicidade... Parece estar incutido na mentalidade das pessoas que é assim que deve ser e que se assim não for seremos eternamente infelizes...
Ao estudar sobre as diferentes modalidades de educação para a diversidade me vejo intrigada com esta supervalorização dada à aparência física ideal e logo questiono: que lugar estamos destinando em nossa sociedade para aqueles que não obedecem aos padrões de beleza pré-estabelecidas pela sociedade? Que lugar terão aqueles que não poderão se submeter a uma cirurgia para ter pernas de volta ou voltar a enxergar... No anseio pela perfeição física, que lugar estamos dando para aqueles desprovidos, por exemplo, de braços? E a escola, o que tem a ver com isso? Será que ela está contribuindo para o entendimento de que há direitos iguais para pessoas tão diferentes fisicamente? Será que a escola é um lugar onde se constrói o respeito pelos diferentes??? Será que, além da permanência estamos oferecendo a acessibilidade educacional a todas as crianças que estão nos bancos escolares?
Não quero fazer deste blog um espaço para julgamentos, aliás, respeito as pessoas que dedicam atenção à beleza, nem quero fazer-me entender como uma pessoa despreocupada com a aparência física. Pelo contrário, acho que os cuidados com o corpo são fundamentais, que devemos, sim, querer mostrar-nos bem. Os cuidados corporais devem fazer parte da rotina de pessoas que se preocupam com sua saúde.
Gostaria apenas de chamar a atenção para o fato de que, ao exceder-nos na busca pela perfeição do corpo (que talvez nunca aconteça) e fixar-nos nos moldes que a mídia e a sociedade nos impõem, poderemos tender a assumir posturas excludentes àqueles que assim não são. Basta lermos jornais e revistas para constatar que são inúmeros os movimentos de violência contra os “diferentes”.
Quero chamar a atenção dos meus colegas, e respeitados educadores, para o fato de que o preconceito com a aparência física pode nos tornar profissionais segregadores. Aceitar o outro dispende autoaceitação. Penso que a escola muito poderá contribuir para a formação de relações mais harmoniosas a partir do momento que proporcionar reflexões sobre os quanto as diferenças são positivas.
Em 16 de abril de 2009 a UOL Notícias publicou uma reportagem um tanto assustadora sobre a vida de uma criança da indígena Ianomâmi que, internada em um hospital em Manaus contra a vontade dos pais, corria o risco de perder a vida em nome da preservação dos costumes indígenas. Achei chocante o fato e pensei que seria um ótimo momento para refletirmos sobre a diversidade humana no contexto das diferentes culturas. Será mesmo que a vida têm tão pouco valor frente à preservação da cultura? Leia e pense sobre isso.
Caso de índia ianomâmi deficiente gera crise institucional no Amazonas
Especial para o UOL Notícias
A internação de uma índia da etnia ianomâmi em um hospital de Manaus está criando uma crise institucional no Amazonas. Os pais da criança querem retirá-la do hospital e levá-la para a aldeia. Nesta quinta-feira (16), porém, a Justiça Estadual concedeu uma ordem para que a menina, vítima de hidrocefalia (condição na qual há líquido cérebro-espinhal em excesso ao redor do cérebro e da medula espinhal), permaneça no hospital até ter alta. De outro lado, a Fundação Nacional do Índio (Funai) ameaça recorrer da decisão para garantir os direitos dos pais da menina. E em meio a tudo isso está o Conselho Tutelar, que teme que a criança seja sacrificada pelos pais quando retornar à aldeia, como parte de um ritual da etnia.A criança chegou ao hospital levada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e da ONG Serviço e Cooperação com o povo Yanomami (Secoya), que faz serviço de atendimento em saúde para os índios desta etnia.A crise em torno da menina começou no início desta semana. Na última terça-feira (14), os pais da pequena ianomâmi de um ano e meio de idade foram ao Hospital Infantil Drº Fajardo, em Manaus, para tentar retirá-la do local. Ela está internada desde março com hidrocefalia, pneumonia, tuberculose e desnutrição.
Polêmica no Amazonas
Enfermeira cuida de bebê ianomâmi que está internada com hidrocefalia, tuberculose e pneumonia em hospital infantil de Manaus. O Conselho Tutelar da capital amazonense vai protocolar no Ministério Público Estadual pedido de suspensão dos direitos dos pais da criança, depois que três indígenas teriam tentadolevá-la de volta à aldeia sem autorização médica
A direção do hospital acionou o Conselho Tutelar que, diante das suspeitas de que a criança seria sacrificada por ser portadora de deficiência física, acionou o Ministério Público Estadual (MPE) pedindo a permanência da criança no hospital. Nesta quinta-feira (16), a juíza Carla Reis, da 2º Vara da Infância e da Juventude, concedeu pedido de providências ordenando que a menina fique onde está até que seu quadro clínico seja considerado satisfatório.A decisão causou indignação do administrador regional da Funai em Manaus, Edgar Fernandes. "Ela (Justiça Estadual) não tem prerrogativa para julgar esse caso. Questões envolvendo índios têm de ser resolvidas na Justiça Federal. Vamos recorrer ao MPF (Ministério Público Federal) para interceder a favor da família", disse Edgar.Para a diretora do hospital, Glória Chíxaro, o estado clínico da menina é estável, mas a interrupção de seu tratamento pode leva-la à morte. "O quadro dela, hoje, é estável, mas se for retirada do hospital, seu tratamento será seriamente comprometido e ela pode morrer na aldeia", disse completando que a menina será submetida a uma cirurgia para drenar o líquido de sua cabeça.Edgar Fernandes discorda do entendimento da diretora e diz que o desejo dos pais da menina de levá-la para sua aldeia é legítimo e amparado pela Constituição Federal. "Os povos indígenas têm direito às suas próprias crenças. Os pais da menina não acreditam mais na medicina ocidental e querem que ela tenha os seus últimos dias na aldeia", explicou.Para Fábio Menezes, conselheiro tutelar que acompanha o caso, retirar a menina do hospital é sentencia-la à morte. "Na cultura deles, quem tem deficiências deve ser sacrificado. Eles já disseram à Funai que irão fazer isso. A própria Funai já admitiu que isso pode acontecer", disse Menezes.
Grupo de discussão
Sobre o possível 'sacrifício' da índia, a Funai divulgou uma nota explicando que esse tipo de ritual faz parte da cultura da etnia ianomâmi. "Gerar um filho defeituoso, que não terá serventia numa aldeia que precisa necessariamente de gente sadia (...) é um grave 'pecado', pois este não poderá cumprir o seu destino ancestral", diz a nota.Ainda de acordo com o documento, para evitar o transtorno de ter um integrante deficiente na aldeia, quando a criança nasce, a mãe realiza um cuidadoso exame e se constatar que a mesma é portadora de deformidade, a mesma é 'descartada'.Fábio Menezes diz que, apesar da decisão da Justiça Estadual, vai tentar impedir que ela seja levada de volta à aldeia. "Vou tentar uma reanálise do caso. Ela não pode voltar pra lá", disse.
Polêmica sobre infanticídio indígena mistura leis, valores culturais e saúde
O infanticídio entre indígenas é um tema que já gerou documentários, projetos de leis e muita polêmica em torno de saúde pública, cultura, religião e legislação. Ainda utilizado por volta de 20 etnias entre as mais de 200 do Brasil, esse princípio tribal leva à morte não apenas gêmeos, mas também filhos de mães solteiras, crianças com problema mental ou físico, ou doença não identificada pela tribo
Para o antropólogo Ademir Ramos, o caso mostra, de forma emblemática, o choque entre as culturas indígenas e a ocidental. "O não índio não está discutindo hoje a eutanásia? Essa é uma questão já resolvida para os ianomâmis. Eles precisam de gente saudável na aldeia. Uma criança com deficiência gera uma série de transtornos aos integrantes da tribo", disse o antropólogo.A juíza Carla Reis defendeu sua decisão ordenando a manutenção da menina no hospital. "Eu estou analisando apenas o fato de ela se tratar de uma criança. Não entrei no mérito de ela ser indígena ou não. Pra mim, ela é apenas uma criança", disse.A magistrada admite, porém, que a Funai tem argumentos para recorrer de sua decisão. "Se eles quiserem, podem argumentar que a Justiça Estadual não tem autoridade para decidir em casos envolvendo índios. Vai depender deles", disse.Uma reunião entre Conselho Tutelar, Funai e o Ministério Público Federal (MPF) está sendo realizada na noite desta quinta-feira. O MPF ainda não se manifestou sobre o caso.
Leia a reportagem em http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/04/16/ult5772u3628.jhtm
Se formos fazer um balanço dos trabalhos levados a cabo até hoje com a Educação Indígena, caímos da constatação que todos eles, alternativos, oficiais e religiosos, não conseguiram escapar de um modelo formal, escolar. Tanto é que hoje se tornou mais adequado referir-se ao assunto utilizando a expressão Educação Escolar Indígena (Kahn, 1994).
O fato é que não existe Educação Indígena que caiba num modelo de escola. O que se vem fazendo é, sim, uma Educação para o Índio, pois todos os programas desenvolvidos no sentido de se implementar um processo de ensino e aprendizagem entre grupos indígenas têm como parâmetro — seja para reproduzir, seja para contestar — a escola formal. Ao longo da história do Brasil, as ações educativas que vêm sendo desenvolvidas em contexto indígena — reacionárias ou progressistas, religiosas ou leigas, assimilacionistas ou libertadoras — estão atreladas ao modelo escolar formal, ocidental, hierarquizado e individualista. O que pretendo comunicar aqui é que não podemos nos dar a ilusão de estarmos construindo uma "escola verdadeiramente indígena" se, antes de mais nada, nós, agentes desse processo, não somos índios e, sobretudo, porque os índios que estão sendo preparados para assumir esta tarefa vêm sendo orientados, informados, catequisados, doutrinados por nós, caras pálidas. Um dia, espero — e tenho sim essa esperança que se contrapõe ao meu atual criticismo — que as comunidades indígenas tenham seus intelectuais assumindo a conceitualização de algo que será relativo ao processo de ensino e aprendizagem de alguma coisa que eles têm que partilhar com sua comunidade (Kahn, 1994).
Você já ouviu falar na distinção que há entre educação indígena e educação para os índios? Vamos saber um pouco mais sobre isso? Leia o trabalho intitulado "EDUCAÇÁO INDÍGENA VERSUS EDUCAÇÃO PARA ÍNDIOS": sim, a discussão deve continuar...” da antropóloga Marina Kahn. Ela é coordenadora do Projeto de Educação Waiãpi, do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e pesquisadora no Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), em São Paulo e tececonsiderações muito valiosas sobre a educação indígena que vem se dando nas tribos. A partir de suas experiências profissionais e do trabalho com os Waiãpi, cujas terras se localizam no Estado do Amapá, Kahn relata o histórico “escolar” desses indígenas discutindo sobre o papel da FUNAI e a formação dos professores, entre outros. Leia o artigo completo em www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/view/954/859
PENSANDO SOBRE CORPO E DIVERSIDADE...
O corpo, ao longo do processo histórico, foi um grande instrumento para a busca da homogeneização das sociedades. Isto me assusta e me instiga, pois acredito que ainda acontece nos dias atuais...
Um breve olhar para a educação dos indígenas e dos negros, desde os primórdios, nos é suficiente para visualizar o quanto se buscava educar o corpo a fim de educar a mente, a fim de que as caracteríticas tornassem cada vez mais próximas à da sociedade branca. Os indígenas, por exemplo, submetidos à educação jesuítica, foram batizados e proibidos de realizar o que antes faziam para transformarem seus corpos em “cristãos” sofrendo as penalidades que a diversidade lhes impunha. Caso contrário, não seriam nem considerados humanos. Veja:
Para os missionários, essas “pobres almas”, sendo filhos de Deus, desconheciam a “verdadeira fé”. Deveriam, portanto, conhecer a palavra de Deus, receber o batismo e ser cristianizados. Cristianizar, neste caso, era o mesmo que ensiná-los a viver como civilizados (DOMINGUES, p. 77, 2009).
Destaquei a questão indígena para promover ao leitor a reflexão da imposição que recai, primeiramente ao corpo, para imprimir a mentalidade de que uns são melhores do que os outros.
Ao trabalharmos a educação indígena na escola, muitos de nós, fortalecem uma versão mentirosa que ressalta características preconceituosas aos indígenas como “insolentes, preguiçosos, sujos”, versão esta que nos foi contada e repassada ao longo de nossa trajetória escolar. Será preciso, pois, muito estudo e muita reflexão para mudarmos esse contexto, pois vejo que tais afirmações perpetuam atitudes preconceituosas que nada contribuem para a educação para a diversidade que queremos.
Acredito que assim ainda acontece nas escolas. Vejo as práticas excessivas de disciplina como formadoras de alunos apáticos e imobilizados em vestimentas que os enrijecem e fazem da escola um lugar muito diferente de sua vivência social. A escola, através de práticas assim, busca tornar todos os alunos iguais, mesmo que de forma mascarada, o que considero um grande prejuízo. É como se não houvesse espaço para as diferenças... É preciso mudar!
DOMINGUES, Sérgio A. Sujeitos e saberes da Educação Indígena. Coleção UNESP-SECAD-UAB: Educação à distância na diversidade - Mara Sueli Simão Moraes, Elisandra André Maranhe (org.). São Paulo: UNESP, Pró Reitoria de Extensão, Faculdade de Ciências, 2009, v.3.
segunda-feira, 29 de março de 2010

Marginalidade, exclusão social e desigualdade são palavras que se encaixam perfeitamente ao passarmos rapidamente pela história da escolarização dos negros no Brasil. Waléria Menezes, em seu estudo intitulado “O preconceito racial e suas repercussões na instituição escola” (Trabalhos para discussão, n. 147, 2002) nos oferece um panorama oportuno para pensarmos sobre as relações raciais que acontecem na escola. À luz de pesquisas nos mostra interessantes observações realizadas com crianças negras escolarizadas. Vejamos.
Diversos autores preocuparam-se com a relação entre racismo e educação, desenvolvendo pesquisas nessa linha. Uma delas foi realizada por Gusmão (1999), com crianças pobres de periferia urbana ou do meio rural, e tinha como objetivo verificar de que forma estigmas e estereótipos se fixam na vida do negro. Para tal, foram analisados desenhos nos quais foi possível observar como se estrutura o mundo simbólico e de que forma as crianças olham o mundo e são olhadas por ele. No universo investigado, incluiu-se também o sistema educacional.
Por meio dos desenhos, foi possível observar qual a compreensão tida pelos dois mundos: brancos/negros. O branco foi representado como vinculado ao que é civilizado, urbano, bem apresentado, sorridente, enquanto o negro seria o inverso: meio rural, ligado ao trabalho físico, desprovido de dinheiro e de possibilidades. A imagem do negro é mutilada de atribuições positivas, é representada pelas crianças como um mundo triste, marcado pela violência e pela distância real e simbólica entre brancos/negros.
Cada população parece ter seus lugares bastante delimitados no imaginário coletivo, transbordando para o convívio social. Algumas crianças mostraram-se hostis frente a essa postulação, demonstrando a sua indignação contra conteúdos discriminatórios. Mas, haveria ainda os que se "adaptam" ao discurso do opressor, percebendo-se como selvagens, sem humanidade, impossibilitados de protestar contra sua condição por se sentirem amordaçados pela internalização maciça dos padrões dominantes.
Em outra pesquisa realizada com crianças de escola pública de Campinas, Oliveira (1994) investigou como eram estabelecidas as relações entre crianças negras e brancas em uma sala de aula. Foi observado que os dois grupos se relacionavam de modo tenso, segregando, excluindo. A criança negra mantinha-se em uma postura introvertida, recusando-se em muitos momentos a participar das atividades propostas, com medo de que os outros rissem dela, ou seja, para não ser rejeitada ou ridicularizada, ela preferia calar sua voz e sua dor. Isso ilustra o quanto uma situação social pode silenciar as crianças negras, reduzindo-as a um estado quase de mutismo e invisibilidade em sala de aula, levando-as a profundo desconforto, intensificado pelo sentimento de não-pertença.
Em atividade proposta em sala de aula, foi solicitado às crianças que falassem sobre si em uma redação. A criança negra se auto-referia de modo depreciativo, descrevendo-se a partir do discurso dos seus colegas: "feia, preta, fedorenta, cabelo duro". Não se sentia desejada, portanto, pelos meninos como as suas outras colegas que tinham um cabelo grande e liso.
A criança negra poderá ser submetida a uma violência simbólica, manifestada pela ausência da figura do negro no contexto escolar, ou pela linguagem verbal – insultos e piadas – proveniente do seu grupo social, demonstrando de modo explícito o desrespeito dirigido a essa população, aprendido muito cedo pelas crianças brancas.
A criança negra poderá incorporar esse discurso e sentir-se marginalizada, desvalorizada e excluída, sendo levada a falso entendimento de que não é merecedora de respeito ou dignidade, julgando-se sem direitos e possibilidades. Esse sentimento está pautado pela mensagem transmitida às crianças de que para ser humanizado é preciso corresponder às expectativas do padrão dominante, ou seja, ser branco.
Esses estímulos de branquitude são em geral transmitidos pelo sistema social e, às vezes, pela família. Tal tipo de ação conduz não apenas à desvalorização do "eu", mas também acarreta intensa angústia, porque a criança não consegue corresponder às expectativas. Assim, a identidade da criança negra passou a ser lesada: ao se voltar para o seu próprio corpo, as crianças encontram as marcas da exclusão, rejeição e, portanto, insatisfação e vergonha.
A população negra poderá acabar por negligenciar a sua tradição cultural em prol de uma postura de embranquecimento que lhe foi imposta como ideal de realização. Esse posicionamento foi decorrente da internalização de que "embranquecer" seria o único meio de ter acesso ao respeito e à dignidade. Esse ideal de embranquecimento faz com que a criança deseje mudar tudo em seu corpo. No discurso de uma das crianças entrevistadas, Oliveira(1994) salienta uma frase: "Eu queria dormir e acordar branca do cabelo liso".A fala dessa criança leva a supor que seria como acordar de um pesadelo, povoado de insatisfação, vergonha e rejeição. A criança não entende nem é entendida nesse sistema educacional, que parece reproduzir o padrão hegemônico, estigmatizando a criança negra como incapaz, rebelde.
Essa postura é ainda reafirmada pela linguagem não-verbal, quando estudos demonstram que parece haver uma ausência de contato físico afetivo dos professores para com as crianças negras, demonstrando a rejeição do seu grupo social e causando-lhes sofrimento. A sua dor não é reconhecida, havendo uma aparente falta de acolhimento por parte das pessoas "autorizadas" (educadores), que silenciam ou se omitem em face de uma situação de discriminação. Tal postura denuncia a banalização do preconceito e a conivência dos profissionais com ele (Romão, 2001).
É possível observar que há uma aparente falta de intervenção por parte dos educadores em tal problemática. Alguns fatores que estariam implicados em tais questões seriam: i - Os educadores poderiam estar imbuídos de forte impregnação da ideologia dominante, que oprime e nega tudo aquilo que se distancia do padrão estabelecido, impossibilitando-os de pensar numa perspectiva multicultural. ii - Mitificação da instituição Escola, acreditando que ela seria a detentora de um suposto saber e, por conseguinte, "dona da verdade", intimidando alguns educadores a não macular tal imagem, não questionando determinada postura ou a adoção de determinado material didático, permanecendo a sensação de mal-estar que não é significada, ou seja, não é falada, dando continuidade ao silêncio e à cumplicidade com determinadas atitudes. iii - Falta de preparo dos professores para lidar com a questão racial em sala de aula, desencadeando a difusão da discriminação racial. Essa falta de preparo impossibilita a decodificação e a intervenção do educador em situações que denotem sinais de preconceito.
Considerações finais
Nesse sentido, o cotidiano escolar poderá revelar uma inclinação para corresponder ao padrão branco/europeu negligenciando os valores referentes às matrizes africanas, podendo levar à acentuação do estigma de ser inferior. Essas ações preconceituosas conduzem a um processo de despersonalização dos caracteres africanos, o que dificulta e, em alguns casos, inviabiliza a inserção da criança no sentimento de pertença ao espaço escolar, comprometendo a sua auto-estima, impossibilitando-a de ter um autoconhecimento individual ou cultural, pois esses dois níveis estão diretamente ligados a condições desvalorizadoras atribuídas pelo grupo dominante.
Para Romão (2001), a reversão desse quadro será possível pelo reconhecimento da escola como reprodutora das diferenças étnicas, investindo na busca de estratégias que atendam às necessidades específicas de alunos negros, incentivando-os e estimulando-os nos níveis cognitivo, cultural e físico. O processo educativo pode ser uma via de acesso ao resgate da auto-estima, da autonomia e das imagens distorcidas, pois a escola é ponto de encontro e de embate das diferenças étnicas, podendo ser instrumento eficaz para diminuir e prevenir o processo de exclusão social e incorporação do preconceito pelas crianças negras.
O espaço institucional poderá proporcionar discussões verticalizadas a respeito das diferenças presentes, favorecendo o reconhecimento e a valorização da contribuição africana, dando maior visibilidade aos seus conteúdos até então negados pela cultura dominante. Esse tipo de ação promoverá um conhecimento de si e do outro em prol da reconstrução das relações raciais desgastadas pelas diferenças ou divergências étnicas.
Leiam este estudo na íntegra: http://www.fundaj.gov.br/tpd/147.html
Quer entender a diversidade? Pense um pouco sobre o arco-íris...

Embora admiradora do arco-íris, eu nunca havia pensado em sua relação com a diversidade humana. Através do estudo “Educação para a diversidade e cidadania”, quando na leitura do material sobre educação inclusiva, despertei para uma interessante reflexão. Vejamos: as cores do arco-íris nos servem como modelo para entender que é no relacionamento dos diferentes que se constrói a beleza da vida. No arco-íris cada cor, embora única, ganha maior valor ao lado das outras. Apesar de não se misturarem, é o complemento de todas as cores, que traz a beleza que vemos na formação do arco-íris!
quarta-feira, 24 de março de 2010
O papel da escola na formação de identidades
A diversidade humana na escola:
reconhecimento, multiculturalismo e tolerância*
A formação das identidades depende dos processos de socialização e de ensino e aprendizagem que ocorrem de acordo com as características físicas, cognitivas, afetivas, sexuais, culturais e étnicas dos envolvidos nos processos educativos.
O desenvolvimento da identidade do ser humano, como nos ensina Habermas (1983), pode ser analisado como um processo de aprendizagem:
a) Lingüística: para a comunicação;
b) Cognitiva: para a busca dos conhecimentos necessários para a vida em sociedade;
c) Interativa: para a ação e a interação com o outro.
De uma perspectiva geral, todos os processos educativos devem levar ao desenvolvimento desses três conjuntos de competências.
Uma educação democrática é aquela em que todos os envolvidos podem participar na definição dos rumos da educação, e não só os dirigentes, professores, acadêmicos e técnicos.
A escola como esfera pública democrática pode possibilitar a capacitação de pais, alunos e educadores para a participação na busca de soluções para os problemas da escola, do bairro, da cidade, do Estado, do País e da vida da espécie humana no Planeta.
A democracia é um processo de negociação permanente dos conflitos de interesses e idéias. Para haver essa negociação permanente é preciso o respeito à diferença. Uma escola que respeita a diferença é uma escola pluralista que ensina a viver em uma sociedade que também é heterogênea.
Para tanto, todos devem ter o direito de falar, opinar e participar nos processos decisórios. É participando que se aprende a participar. Uma escola “perfeita”, na qual ninguém precisa dar nenhuma opinião, é um desastre educativo. O problema é que o controle e a disciplina, a idéia de ordem, organização e limpeza muitas vezes se tornam prioritários em relação ao direito de participação.
Um ponto de partida para que exista o respeito à diversidade na escola é aceitarmos que os agentes que interagem na escola têm interesses, visões de mundo e culturas diferentes e nenhum de nós tem o monopólio da verdade, da inteligência e da beleza. Daí a necessidade de negociações permanentes para que todos façam concessões, e todos tenham ao menos parte dos seus interesses e valores contemplados no espaço público da escola.
RECONHECIMENTO
Ao tratar da diversidade humana na escola podemos ter como parâmetro a necessidade de reconhecimento que caracteriza os seres humanos.
Para interpretarmos quem somos como coletividade ou quem somos como indivíduos, dependemos do reconhecimento que nos é dado pelos outros. “Ninguém pode edificar a sua própria identidade independentemente das identificações que os outros fazem dele”, nos ensina Habermas (1983: 22).
O reconhecimento pelos outros é uma necessidade humana, já que o ser humano é um ser que só existe através da vida social.
Como também nos ensina Charles Taylor (1994: 58), “um indivíduo ou um grupo de pessoas podem sofrer um verdadeiro dano, uma autêntica deformação se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem limitada, degradante, depreciada sobre ele.”
Um falso reconhecimento é uma forma de opressão. A imagem que construímos muitas vezes sobre os portadores de deficiências e grupos subalternos, pobres, negros, prostitutas, homossexuais, é deprimente e humilhante para estes e causa-lhes sofrimento e humilhação, ainda mais por que tais representações depreciativas são construídas quase sempre para a legitimação da exclusão social e política dos grupos discriminados.
Para que haja respeito à diversidade na escola é necessário que todos sejam reconhecidos como iguais em dignidade e em direito. Mas para não nos restringirmos a uma concepção liberal de reconhecimento, devemos também questionar os mecanismos sociais, como a propriedade, e os mecanismos políticos, como a concentração do poder, que hierarquizam os indivíduos diferentes em superiores e dominantes, e em inferiores e subalternos.
Em outras palavras, ao considerarmos que os seres humanos dependem do reconhecimento que lhes é dado, estamos reconhecendo que a identidade do ser humano não é inata ou pré-determinada, e isso nos torna mais críticos e reflexivos sobre a maneira como estamos contribuindo para a formação das identidades dos nossos alunos.
MULTICULTURALISMOS E TOLERÂNCIA
As sociedades contemporâneas são heterogêneas, compostas por diferentes grupos humanos, interesses contrapostos, classes e identidades culturais em conflito. Vivemos em sociedades nas quais os diferentes estão quase que permanentemente em contato. Os diferentes são obrigados ao encontro e à convivência. E são assim também as escolas.
As idéias multiculturalistas discutem como podemos entender e até resolver os problemas gerados pela heterogeneidade cultural, política, religiosa, étnica, racial, comportamental, econômica, já que teremos que conviver de alguma maneira.
Os multiculturalismos nos ensinam que reconhecer a diferença é reconhecer que existem indivíduos e grupos que são diferentes entre si, mas que possuem direitos correlatos, e que a convivência em uma sociedade democrática depende da aceitação da idéia de compormos uma totalidade social heterogênea na qual:
a) não poderá ocorrer a exclusão de nenhum elemento da totalidade;
b) os conflitos de interesse e de valores deverão ser negociados pacificamente;
c) a diferença deverá ser respeitada.
A política do reconhecimento e as várias concepções de multiculturalismo nos ensinam, enfim, que é necessário que seja admitida a diferença na relação com o outro. Isto quer dizer tolerar e conviver com aquele que não é como eu sou e não vive como eu vivo, e o seu modo de ser não pode significar que o outro deva ter menos oportunidades, menos atenção e recursos.
A democracia é uma forma de viver em negociação permanente tendo como parâmetro a necessidade de convivência entre os diferentes, ou seja, a tolerância. Mas para valorizar a tolerância entre os diferentes temos que reconhecer também o que nos une.
Por WALTER PRAXEDES
Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e graduado em Ciências Sociais na mesma instituição. Professor de sociologia da UEM e Faculdades Nobel
Confira o artigo na íntegra e outros escritos pelo autor em http://www.espacoacademico.com.br/042/42wlap.htm
terça-feira, 16 de março de 2010
Vejam esse vídeo: os diferentes podem se entender!
Lembrete importante!!!!

"Ser diferente é normal!": É esta frase que nós, educadores ou não, pessoas comprometidas com uma educação de qualidade e com um mundo melhor, temos que incorporar em nossa vida. Aceitar e assumir as diferenças entre os seres humanos é um grande passo para que vençamos a barreira dos preconceitos.o próximo dia 21 de Março é o Dia Internacional da Síndrome de Down. Convido a todos vocês que, assim como eu, acreditam no poder da diversidade, a acessarem o site www.serdiferenteenormal.org.br e mostrarem a cara contra o preconceito!
segunda-feira, 1 de março de 2010
Como tornar a escola um espaço inclusivo?
A partir da publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (MEC, 1996) e particularmente a partir do ano 2000, as políticas públicas que regulamentam a educação brasileira e os programas governamentais têm gradualmente preparado os educadore(a)s para a inclusão de todas as crianças, jovens e adultos no país, sem discriminação de qualquer natureza.
O processo de mudança da pedagogia tradicional (leitura, cópia, exercícios no caderno ou livro, etc) para uma pedagogia inclusiva, pouco a pouco transforma o(a) docente em pesquisador(a) de sua prática pedagógica, pois a nova dinâmica de ensino faz com que adquira habilidades para refletir sobre sua docência e aperfeiçoá-la continuamente. O docente aprende a reconhecer o valor e a importância do trabalho colaborativo e da troca de experiências com seus colegas professor(a)s, os quais podem contribuir de forma sistemática sobre novas formas de ensinar, de lidar com ´velhos´ problemas e de se desenvolver profissionalmente.
Princípios orientadores da prática de ensino inclusiva (MEC/SEESP 2005, pp. 23-25):
· Aprendizagem ativa e significativa - constituída por abordagens didáticas que encorajam a participação dos estudantes em atividades escolares cooperativas, durante as quais os estudantes se agrupam e resolvem tarefas ou constróem conhecimentos juntos; as aulas são organizadas de forma que os estudantes em grupo realizam tarefas diferenciadas sobre um mesmo conteúdo curricular que se complementam e que dão base à construção do conhecimento coletivo;
· Negociação de objetivos – as atividades propostas em sala de aula consideram a motivação e o interesse de cada estudante. Para isso, o docente deve conhecer a cada aluno(a) individualmente (experiências, história de vida, habilidades, necessidades, etc.) e o plano de aula deve prever e incentivar a participação dos estudantes tanto nas tomadas de decisão acerca das atividades realizadas na classe como no enriquecimento e flexibilização do currículo. Por exemplo, o(a)s aluno(a)s pode fazer escolhas de conteúdos, estabelecer prioridade de aprendizagem, sugerir atividades e formas de agrupamento ou conteúdos para serem abordados, etc.
· Demonstração, prática e feedback – a aula planejada pelo docente oferece modelos práticos aos estudantes sobre como as atividades devem ser realizadas ou o professor(a) demonstra sua aplicação em situações variadas na classe e na vida real, de forma a promover uma reflexão conjunta sobre as atividades e o processo de aprendizagem. ‘Ver’ na prática o que se espera que seja realizado pelos aluno(a)s aumenta as chances de participação de todos o(a)s aluno(a)s e o sucesso da aprendizagem de cada um.
· Avaliação contínua - na prática de ensino inclusiva, o processo de avaliação é contínuo, no qual os estudantes estabelecem seus objetivos de aprendizagem e formas de avaliar seu progresso em termos da própria aprendizagem. A avaliação tem um papel fundamental na revisão continua da prática pedagógica e, conseqüentemente, na melhoria (desenvolvimento) do trabalho docente, porque oferece ao professor(a) dados sobre como usar as metodologias de ensino dinâmicas para abordar conteúdos curriculares de forma diversificada e acessível a todo(a)s os educando(a)s.
· Apoio e Colaboração – esse princípio contribui para romper com as práticas de ensino individualizadas que não favorecem a cooperação entre o(a)s estudantes para atingirem resultados de aprendizagem satisfatórios para todo(a)s. Juntos – em equipe – os aluno(a)s se sentem fortalecidos para correrem riscos e tentarem caminhos alternativos (inovadores) para resolver problemas e para aprender. Obviamente, não se exclui nas atividades de sala de aula a realização de tarefas individuais, contudo, esta forma de trabalho não é a preponderante numa sala de aula inclusiva.
Desenvolver qualidade educacional e promover o desenvolvimento profissional de docentes para educar na diversidade em um país com dimensões territoriais e pluralidade cultural significativas, como é o caso do Brasil, não é tarefa para poucos ou de curto prazo. Todo(a)s devemos estar conscientes de que o processo de mudança acarretará turbulências, temor, desacordos entre áreas de conhecimentos, dúvidas e inseguranças que podem nos imobilizar. Contudo, as mudanças são necessárias e urgentes e, para alcançá-las é preciso estabelecer alianças e parcerias, realizar trocas e compartilhar experiências de sucesso ou de fracasso. Somente assim, superando as barreiras que nos imobilizam e atemorizam, seremos capazes de construir sistemas educacionais mais justos e igualitários, mais humanizados e humanizadores para educador(a) e para cada criança, jovem e adulto que representam a diversidade existente no país.
Leia o artigo na íntegra em: www.grupo25.org.br/.../4Encontro-WindyzFerreira-Educarnadiversidade-ensaiospedagogicos.doc
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Todas as guerras do mundo são iguais.
Que maravilha é ler Drummond!Que poder têm seus poemas, fazendo-nos pensar
sobre a
diversidade que o ser humano traz em si. Diversidade que o faz ímpar
e
estranho... Que triste pensar que esta estranheza é
causa de reações
desumanas que destróem a alma e machucam o
corpo.Que corpo e que alma feridos têm os diferentes,
nós... Que tristeza guardam no coração aqueles que se
destacam pela sua unicidade física e mental que se torna causa de repúdio diante
da falsa
homogeneidade que a sociedade busca.Como pode o ser humano se envergonhar de sua
diversidade?Como pode não aceitar o outro?Como pode se envergonhar de ser um ser único,
criação divina?Prefiro acreditar na beleza da criação , admirar
o
diferente e pensar "Como é bom ser ímpar!"
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Vamos pensar um pouco sobre aparência física e preconceito?
A professora Íris de Souza Cabral, 34, estudante de Pedagogia, diz colecionar histórias onde foi vítima de preconceito, tanto por ser negra quanto pela obesidade. “Uma mãe de aluno, ao chegar na reunião de pais que antecede o primeiro dia de aula, olhou pra mim e disse: ‘minha filha não vai ter aula com esta negra”. Sem perder o bom humor, Íris também conta que, muitas vezes, em locais públicos percebeu que ao se aproximar pessoas demonstravam receio, escondendo a bolsa ao passo que procuravam de afastar. “Tenho muita história pra contar, diz Íris sem perder o sorriso: “ outro dia, no ônibus, uma senhora perguntou se eu tinha carteirinha de deficiente, alegando que a minha gordura era deficiência”. Segundo a professora, esse tipo de coisa está sempre acontecendo com ela, no trabalho e na rua. “Eu só sei que tenho nome de deusa, e me sinto assim, linda”, finaliza Íris, comprovando o alto astral.
Segundo a advogada Lúcia O. C., há 4 anos na profissão, não há na Constituição algo específico sobre preconceito relacionado à aparência, exceto quando há casos de racismo, que é previsto em lei como crime inafiançável. Lúcia acredita que problemas com aparência podem ser estendidos pelo artigo 3º da Constituição Federal, que dita: “Promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Embora Lúcia não tenha muita experiência no assunto, diz que “o preconceito existe, mas no momento que se pratica uma discriminação dessa, a gente ofende o artigo 3º da Constituição Federal”. Dependendo do caso, a pessoa vítima do preconceito, ao se sentir moralmente prejudicada pode recorrer à Justiça, mas o problema, de acordo com o advogado Everson Andrade, 20 nos de profissão, é provar a discriminação. “Processar você pode, por qualquer coisa, mas não se pode denunciar só porque alguém falou. È preciso ter indícios, ter provas”, diz. Andrade ressalta que se puder provar, a vítima do preconceito será indenizada por perdas e danos morais. “A prova pode ser técnica, testemunhal, documental e pericial ainda”, declara o advogado, que faz questão de dizer: “ a discriminação é uma coisa que nós chamamos de norma constitucional em branco, porque prevê que há o ilícito, mas não prevê a pena. No fundo ninguém vai pra cadeia por isso. Acaba ficando papel pra lá, papel pra cá, mas não acontece nada, essa que é a realidade”, desabafa.
Problemas de pele como vitiligo, psoríase, pitiríase e espinhas, por exemplo, também são responsáveis por situações desagradáveis, onde o preconceito é comprovado por pessoas que ignoram as causas de tais patologias julgando, mais uma vez, pelo que vêem apenas. A professora Zilá Marques de Castro, 56 anos, teve vitiligo quando criança e nunca esquece um fato ocorrido na escola, quando sua professora a chamou de barata descascada. “Cheguei em casa e chorei muito, era criança e tímida, mas não deixei que isso me abalasse a ponto de ficar complexada”, declara. João Salgado Júnior, 23 anos, também passou por situação semelhante: “eu tinha uma colega de serviço que nunca quis conversar comigo, mantinha distância. Um dia, ao entrar no departamento de repente, a ouvi dizendo pra outra pessoa que não falava comigo porque tinha nojo das espinhas no meu rosto”.
A reação da vítima do preconceito depende do seu preparo psicológico, de como encara cada situação, mas também varia de acordo com a intensidade com que é manifestado o preconceito. “Tem pessoas que judiam, e isso pode ser extremamente traumático”, diz a Psicóloga e Psicanalista Roseli Machado, há 7 anos atuando na profissão. Os “rótulos”, conforme diz Roseli, são as formas que as pessoas usam para julgar pela aparência, que ganham mais força ainda, na sua opinião, através da mídia, “porque ela impõe um estereótipo de beleza que são, hoje em dia, homens e mulheres magros, altos, enfim...”. Para a Psicóloga, apelidar é preconceito, assim como a utilização de jargões, “porque os outros somam o estereótipo a um comportamento, a uma atitude, e aí é preconceito sim”. Já Silvia Lima Vallochi, Psicóloga há 8 anos, diz que “qualquer tipo de preconceito surge porque a gente não sabe lidar com a diferença”. Ela explica que ser diferente dá para o ser humano a sensação de ser pior: “surge essa busca pelo que a sociedade determina como o ideal”. Silvia atribui o crescente culto ao corpo à busca pela perfeição. “Não é que todo mundo vá correr atrás (da perfeição), vão correr atrás as pessoas que tem essa necessidade de ter sua auto-estima comprovada através do olhar do outro, e não da crença que ela tem de si mesma”, afirma.
uando se valoriza tanto a aparência física, automaticamente cresce o preconceito, porque não são consideradas as qualidades pessoais. Os considerados “bonitos” também passam por isso. ”As pessoas costumam dizer que uma pessoa muito bonita não pode ser intelectual, e vice versa”, diz Roseli. E Silvia completa: “O bonito sofre preconceito da mesma maneira que um “CDF” sofre. Há sempre uma cobrança de ser o bonitinho, o certinho, o educadinho...”. O importante é a valorização do ser humano e ter consciência de que julgar pela aparência , além de não ser um bom recurso, também é preconceito, e pode causar sérios traumas em quem sofre esse tipo, pouco analisado, de discriminação.
Fonte:http://jornalizta.blogspot.com
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
O corpo na sociedade atual
As mulheres e os homens se preocupam cada vez mais com a forma física: os quilinhos a mais, a pele, o cabelo, o corpo em geral. Manter uma aparência agradável é, sem dúvida, algo positivo para a vida de qualquer pessoa hoje, pois isso faz com que você se sinta mais feliz e mantenha uma boa auto-estima.
O corpo sem duvidas é o principal motivo de tanta inquietação, pois a beleza é vista como algo necessário para que alguém possa obter completa felicidade, muitas vezes as coisas mais essenciais na vida são deixadas de lado por causa da busca intensa de um corpo ideal, almejado por tais pessoas, ou seja, o excesso de preocupação, entretanto, pode não ser muito bom e muitas vezes interferem negativamente até mesmo na sua vida familiar e nas relações com as outras pessoas.
Há uma infinidade de pessoas que ficam inibidas ou envergonhadas por estar acima do peso, ter celulite ou não gostar disso ou daquilo no próprio corpo, muitas pessoas estão dispostas a tudo para alcançar o padrão desejado ou ditado pela moda atual. Pessoas se submetem as dietas rigorosas ou mesmo a inúmeras intervenções cirúrgicas, fazem implantes de silicones, tudo para ter um corpo “sarado”, muitas vezes essa procura é apenas para causar impacto e admirações nas outras pessoas. De nada adianta ter um corpo perfeito se a pessoa não estiver consciente do que realmente conta para uma vida prazerosa e harmônica.
E assim vai caminhando a sociedade atual, em busca de um corpo perfeito que venha trazer benefícios pessoais, nos relacionamentos de casais, e também nos relacionamentos sociais.
Vive-se uma ditadura da beleza onde o corpo é o alvo de todos os sacrifícios.
Fonte: http://pt.shvoong.com/medicine-and-health/1731162-corpo-na-sociedade-atual/
Achei pertinente postar este texto, pois ele é de grande valia para as reflexões que quero proporcionar a vocês com este blog. Bem sabemos que a sociedade predominantemente corporal que vivemos hoje, retratada acima, é fruto de uma trajetória histórica, marcada por repúdio às diferenças e a diversidade social. O que fica claro pelo texto é a necessidade que as pessoas têm hoje de ficarem parecidas. Ao mesmo tempo em que tudo é permitido visualmente - trajes e cabelos - e que o diferente cada vez mais toma conta das ruas da cidade, acredito que sempre há a necessidade de se homogeneizar. Considero essa necessidade como a de ser socialmente aceito. Beleza é a palavra chave e ser bonito é o grande desafio. Porém, contraditoriamente, convivemos também com o diferente, aquele que socialmente não é bonito, mas que busca revelar uma personalidade através de corpos modificados, que em destaque, conseguem aparecer, mesmo que este físico não seja compatível com o que o indivíduo relamente é.



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