Primeiras palavras...



Queridos colegas, a ideia de fazer este blog veio da conclusão do curso "Educação para a diversidade e cidadania" promovido pela UNESP. A partir dos conhecimentos adquiridos, pude refletir sobre o quanto se vê a diversidade humana como fator de segregação, mas o quanto isso pode ser mudado por nós, educadores. Ao escolher pensar sobre o corpo no contexto da diversidade, gostaria de promover a reflexão sobre o físico humano, que consiste num primeiro ponto para onde recaem os sentimentos de discriminação e preconceitos. Afinal, basta olharmos para uma pessoa que a distinguimos de outras e, num grau comparativo, a julgamos inferior ou superior. Isto me incomoda bastante, pois é a partir desse olhar, exterior, que caracterizamos muitas vezes os sujeitos e os discriminamos por serem negros, deficientes, homossexuais, indígenas, rurais ou, simplesmente, algo muito ou pouco diferente de nós.
Assim fazemos também quando na atuação na profissão que escolhemos, professores. Necessitamos, portanto, de um olhar mais apurado e reflexivo sobre a diversidade, uma vez que participamos da formação do caráter de nossos alunos e temos obrigação de ensiná-los a humanidade que está em aceitar as diferenças.
Procurarei, portanto, utilizar este blog, como instrumento para minimizar os problemas causados pela não compreensão do diferente. Procurarei, através da postagem de artigos, enfatizar a questão das diferenças, multiplicando os conhecimentos adquiridos ao longo do curso, a fim de que, como educadores (ou não) possamos nos tornar educados para conviver de forma respeitosa e harmônica com corpos (e mentes) que nem sempre revelam o que são em seu interior...







terça-feira, 6 de abril de 2010



Ilustração de Almada Negreiros


Por que somos sublimes, sem precisar de máscaras, como mostra este trecho do grande poeta Fernando Pessoa!

"TABACARIA" - Fernando Pessoa

"Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era
e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pregada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado,
já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história
para provar que sou sublime."

quarta-feira, 31 de março de 2010


Os programas de televisão anunciam, o tempo todo, as novidades do mercado.
Aparelhos que prometem o emagrecer os gordos sem que eles saiam do sofá.
Cápsulas que capturam as gorduras dos alimentos antes de elas serem absorvidas
pelo organismo. Injeções milagrosas que fazem crescer músculos em corpos magros.
Cirurgias que retiram as gorduras – ainda que ofereçam riscos – realizadas em
clínicas que não oferecem a menor condição de segurança ao “impaciente” que
procura por elas. Enfim, uma infinidade de promessas mágicas. (Pe. Fábio de
Mello em "Quem me roubou de mim?", ditora Canção Nova, 2008)



O Pe. Fábio de Melo é sempre muito inteligente em suas colocações. A frase acima citada nos alerta para o fato da grande ocupação que os indivíduos atualmente dedicam ao corpo: se somos gordos devemos ser magros, se temos a pele branca, ela deverá ficar morena. Se o cabelo é cacheado devemos alisá-lo. Parece que o descontentamento com a aparência física é normal porque ela é sinônimo de felicidade... Parece estar incutido na mentalidade das pessoas que é assim que deve ser e que se assim não for seremos eternamente infelizes...
Ao estudar sobre as diferentes modalidades de educação para a diversidade me vejo intrigada com esta supervalorização dada à aparência física ideal e logo questiono: que lugar estamos destinando em nossa sociedade para aqueles que não obedecem aos padrões de beleza pré-estabelecidas pela sociedade? Que lugar terão aqueles que não poderão se submeter a uma cirurgia para ter pernas de volta ou voltar a enxergar... No anseio pela perfeição física, que lugar estamos dando para aqueles desprovidos, por exemplo, de braços? E a escola, o que tem a ver com isso? Será que ela está contribuindo para o entendimento de que há direitos iguais para pessoas tão diferentes fisicamente? Será que a escola é um lugar onde se constrói o respeito pelos diferentes??? Será que, além da permanência estamos oferecendo a acessibilidade educacional a todas as crianças que estão nos bancos escolares?
Não quero fazer deste blog um espaço para julgamentos, aliás, respeito as pessoas que dedicam atenção à beleza, nem quero fazer-me entender como uma pessoa despreocupada com a aparência física. Pelo contrário, acho que os cuidados com o corpo são fundamentais, que devemos, sim, querer mostrar-nos bem. Os cuidados corporais devem fazer parte da rotina de pessoas que se preocupam com sua saúde.
Gostaria apenas de chamar a atenção para o fato de que, ao exceder-nos na busca pela perfeição do corpo (que talvez nunca aconteça) e fixar-nos nos moldes que a mídia e a sociedade nos impõem, poderemos tender a assumir posturas excludentes àqueles que assim não são. Basta lermos jornais e revistas para constatar que são inúmeros os movimentos de violência contra os “diferentes”.
Quero chamar a atenção dos meus colegas, e respeitados educadores, para o fato de que o preconceito com a aparência física pode nos tornar profissionais segregadores. Aceitar o outro dispende autoaceitação. Penso que a escola muito poderá contribuir para a formação de relações mais harmoniosas a partir do momento que proporcionar reflexões sobre os quanto as diferenças são positivas.

Em 16 de abril de 2009 a UOL Notícias publicou uma reportagem um tanto assustadora sobre a vida de uma criança da indígena Ianomâmi que, internada em um hospital em Manaus contra a vontade dos pais, corria o risco de perder a vida em nome da preservação dos costumes indígenas. Achei chocante o fato e pensei que seria um ótimo momento para refletirmos sobre a diversidade humana no contexto das diferentes culturas. Será mesmo que a vida têm tão pouco valor frente à preservação da cultura? Leia e pense sobre isso.

Caso de índia ianomâmi deficiente gera crise institucional no Amazonas
Especial para o UOL Notícias

A internação de uma índia da etnia ianomâmi em um hospital de Manaus está criando uma crise institucional no Amazonas. Os pais da criança querem retirá-la do hospital e levá-la para a aldeia. Nesta quinta-feira (16), porém, a Justiça Estadual concedeu uma ordem para que a menina, vítima de hidrocefalia (condição na qual há líquido cérebro-espinhal em excesso ao redor do cérebro e da medula espinhal), permaneça no hospital até ter alta. De outro lado, a Fundação Nacional do Índio (Funai) ameaça recorrer da decisão para garantir os direitos dos pais da menina. E em meio a tudo isso está o Conselho Tutelar, que teme que a criança seja sacrificada pelos pais quando retornar à aldeia, como parte de um ritual da etnia.A criança chegou ao hospital levada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e da ONG Serviço e Cooperação com o povo Yanomami (Secoya), que faz serviço de atendimento em saúde para os índios desta etnia.A crise em torno da menina começou no início desta semana. Na última terça-feira (14), os pais da pequena ianomâmi de um ano e meio de idade foram ao Hospital Infantil Drº Fajardo, em Manaus, para tentar retirá-la do local. Ela está internada desde março com hidrocefalia, pneumonia, tuberculose e desnutrição.
Polêmica no Amazonas
Enfermeira cuida de bebê ianomâmi que está internada com hidrocefalia, tuberculose e pneumonia em hospital infantil de Manaus. O Conselho Tutelar da capital amazonense vai protocolar no Ministério Público Estadual pedido de suspensão dos direitos dos pais da criança, depois que três indígenas teriam tentadolevá-la de volta à aldeia sem autorização médica
A direção do hospital acionou o Conselho Tutelar que, diante das suspeitas de que a criança seria sacrificada por ser portadora de deficiência física, acionou o Ministério Público Estadual (MPE) pedindo a permanência da criança no hospital. Nesta quinta-feira (16), a juíza Carla Reis, da 2º Vara da Infância e da Juventude, concedeu pedido de providências ordenando que a menina fique onde está até que seu quadro clínico seja considerado satisfatório.A decisão causou indignação do administrador regional da Funai em Manaus, Edgar Fernandes. "Ela (Justiça Estadual) não tem prerrogativa para julgar esse caso. Questões envolvendo índios têm de ser resolvidas na Justiça Federal. Vamos recorrer ao MPF (Ministério Público Federal) para interceder a favor da família", disse Edgar.Para a diretora do hospital, Glória Chíxaro, o estado clínico da menina é estável, mas a interrupção de seu tratamento pode leva-la à morte. "O quadro dela, hoje, é estável, mas se for retirada do hospital, seu tratamento será seriamente comprometido e ela pode morrer na aldeia", disse completando que a menina será submetida a uma cirurgia para drenar o líquido de sua cabeça.Edgar Fernandes discorda do entendimento da diretora e diz que o desejo dos pais da menina de levá-la para sua aldeia é legítimo e amparado pela Constituição Federal. "Os povos indígenas têm direito às suas próprias crenças. Os pais da menina não acreditam mais na medicina ocidental e querem que ela tenha os seus últimos dias na aldeia", explicou.Para Fábio Menezes, conselheiro tutelar que acompanha o caso, retirar a menina do hospital é sentencia-la à morte. "Na cultura deles, quem tem deficiências deve ser sacrificado. Eles já disseram à Funai que irão fazer isso. A própria Funai já admitiu que isso pode acontecer", disse Menezes.
Grupo de discussão
Sobre o possível 'sacrifício' da índia, a Funai divulgou uma nota explicando que esse tipo de ritual faz parte da cultura da etnia ianomâmi. "Gerar um filho defeituoso, que não terá serventia numa aldeia que precisa necessariamente de gente sadia (...) é um grave 'pecado', pois este não poderá cumprir o seu destino ancestral", diz a nota.Ainda de acordo com o documento, para evitar o transtorno de ter um integrante deficiente na aldeia, quando a criança nasce, a mãe realiza um cuidadoso exame e se constatar que a mesma é portadora de deformidade, a mesma é 'descartada'.Fábio Menezes diz que, apesar da decisão da Justiça Estadual, vai tentar impedir que ela seja levada de volta à aldeia. "Vou tentar uma reanálise do caso. Ela não pode voltar pra lá", disse.
Polêmica sobre infanticídio indígena mistura leis, valores culturais e saúde
O infanticídio entre indígenas é um tema que já gerou documentários, projetos de leis e muita polêmica em torno de saúde pública, cultura, religião e legislação. Ainda utilizado por volta de 20 etnias entre as mais de 200 do Brasil, esse princípio tribal leva à morte não apenas gêmeos, mas também filhos de mães solteiras, crianças com problema mental ou físico, ou doença não identificada pela tribo
Para o antropólogo Ademir Ramos, o caso mostra, de forma emblemática, o choque entre as culturas indígenas e a ocidental. "O não índio não está discutindo hoje a eutanásia? Essa é uma questão já resolvida para os ianomâmis. Eles precisam de gente saudável na aldeia. Uma criança com deficiência gera uma série de transtornos aos integrantes da tribo", disse o antropólogo.A juíza Carla Reis defendeu sua decisão ordenando a manutenção da menina no hospital. "Eu estou analisando apenas o fato de ela se tratar de uma criança. Não entrei no mérito de ela ser indígena ou não. Pra mim, ela é apenas uma criança", disse.A magistrada admite, porém, que a Funai tem argumentos para recorrer de sua decisão. "Se eles quiserem, podem argumentar que a Justiça Estadual não tem autoridade para decidir em casos envolvendo índios. Vai depender deles", disse.Uma reunião entre Conselho Tutelar, Funai e o Ministério Público Federal (MPF) está sendo realizada na noite desta quinta-feira. O MPF ainda não se manifestou sobre o caso.

Leia a reportagem em http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/04/16/ult5772u3628.jhtm


Se formos fazer um balanço dos trabalhos levados a cabo até hoje com a Educação Indígena, caímos da constatação que todos eles, alternativos, oficiais e religiosos, não conseguiram escapar de um modelo formal, escolar. Tanto é que hoje se tornou mais adequado referir-se ao assunto utilizando a expressão Educação Escolar Indígena (Kahn, 1994).

O fato é que não existe Educação Indígena que caiba num modelo de escola. O que se vem fazendo é, sim, uma Educação para o Índio, pois todos os programas desenvolvidos no sentido de se implementar um processo de ensino e aprendizagem entre grupos indígenas têm como parâmetro — seja para reproduzir, seja para contestar — a escola formal. Ao longo da história do Brasil, as ações educativas que vêm sendo desenvolvidas em contexto indígena — reacionárias ou progressistas, religiosas ou leigas, assimilacionistas ou libertadoras — estão atreladas ao modelo escolar formal, ocidental, hierarquizado e individualista. O que pretendo comunicar aqui é que não podemos nos dar a ilusão de estarmos construindo uma "escola verdadeiramente indígena" se, antes de mais nada, nós, agentes desse processo, não somos índios e, sobretudo, porque os índios que estão sendo preparados para assumir esta tarefa vêm sendo orientados, informados, catequisados, doutrinados por nós, caras pálidas. Um dia, espero — e tenho sim essa esperança que se contrapõe ao meu atual criticismo — que as comunidades indígenas tenham seus intelectuais assumindo a conceitualização de algo que será relativo ao processo de ensino e aprendizagem de alguma coisa que eles têm que partilhar com sua comunidade (Kahn, 1994).
Você já ouviu falar na distinção que há entre educação indígena e educação para os índios? Vamos saber um pouco mais sobre isso? Leia o trabalho intitulado "EDUCAÇÁO INDÍGENA VERSUS EDUCAÇÃO PARA ÍNDIOS": sim, a discussão deve continuar...” da antropóloga Marina Kahn. Ela é coordenadora do Projeto de Educação Waiãpi, do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e pesquisadora no Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), em São Paulo e tececonsiderações muito valiosas sobre a educação indígena que vem se dando nas tribos. A partir de suas experiências profissionais e do trabalho com os Waiãpi, cujas terras se localizam no Estado do Amapá, Kahn relata o histórico “escolar” desses indígenas discutindo sobre o papel da FUNAI e a formação dos professores, entre outros. Leia o artigo completo em www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/view/954/859

Você acha que o corpo revela o que a pessoa é?