Primeiras palavras...



Queridos colegas, a ideia de fazer este blog veio da conclusão do curso "Educação para a diversidade e cidadania" promovido pela UNESP. A partir dos conhecimentos adquiridos, pude refletir sobre o quanto se vê a diversidade humana como fator de segregação, mas o quanto isso pode ser mudado por nós, educadores. Ao escolher pensar sobre o corpo no contexto da diversidade, gostaria de promover a reflexão sobre o físico humano, que consiste num primeiro ponto para onde recaem os sentimentos de discriminação e preconceitos. Afinal, basta olharmos para uma pessoa que a distinguimos de outras e, num grau comparativo, a julgamos inferior ou superior. Isto me incomoda bastante, pois é a partir desse olhar, exterior, que caracterizamos muitas vezes os sujeitos e os discriminamos por serem negros, deficientes, homossexuais, indígenas, rurais ou, simplesmente, algo muito ou pouco diferente de nós.
Assim fazemos também quando na atuação na profissão que escolhemos, professores. Necessitamos, portanto, de um olhar mais apurado e reflexivo sobre a diversidade, uma vez que participamos da formação do caráter de nossos alunos e temos obrigação de ensiná-los a humanidade que está em aceitar as diferenças.
Procurarei, portanto, utilizar este blog, como instrumento para minimizar os problemas causados pela não compreensão do diferente. Procurarei, através da postagem de artigos, enfatizar a questão das diferenças, multiplicando os conhecimentos adquiridos ao longo do curso, a fim de que, como educadores (ou não) possamos nos tornar educados para conviver de forma respeitosa e harmônica com corpos (e mentes) que nem sempre revelam o que são em seu interior...







quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Vamos pensar um pouco sobre aparência física e preconceito?

Os problemas referentes ao preconceito não se resumem à discriminação racial. O preconceito acontece das formas mais diversas e se aproveita de fenômenos bem comuns, como a aparência física. Apelidos, piadinhas, brincadeiras e insinuações costumam ser “levados na esportiva”, como se diz, mas quase sempre têm sentido pejorativo e por isso representam uma forma de preconceito, mas não ainda dos mais graves. O problema se torna realmente sério quando discriminações dessa natureza chegam ao ponto de sugerir a exclusão social da vítima e, mais ainda, quando gera traumas que comprometem sua saúde emocional. É amplo o leque de possibilidades que se referem à aparência física, marcado por extremos: O “bonito e o feio”, pessoas obesas ou muito magras, altas ou baixas, com problemas patológicos, deficientes físicos e, até mesmo, mentais. Tudo porque grande parte das pessoas julgam pelo que vêem.
A professora Íris de Souza Cabral, 34, estudante de Pedagogia, diz colecionar histórias onde foi vítima de preconceito, tanto por ser negra quanto pela obesidade. “Uma mãe de aluno, ao chegar na reunião de pais que antecede o primeiro dia de aula, olhou pra mim e disse: ‘minha filha não vai ter aula com esta negra”. Sem perder o bom humor, Íris também conta que, muitas vezes, em locais públicos percebeu que ao se aproximar pessoas demonstravam receio, escondendo a bolsa ao passo que procuravam de afastar. “Tenho muita história pra contar, diz Íris sem perder o sorriso: “ outro dia, no ônibus, uma senhora perguntou se eu tinha carteirinha de deficiente, alegando que a minha gordura era deficiência”. Segundo a professora, esse tipo de coisa está sempre acontecendo com ela, no trabalho e na rua. “Eu só sei que tenho nome de deusa, e me sinto assim, linda”, finaliza Íris, comprovando o alto astral.
Segundo a advogada Lúcia O. C., há 4 anos na profissão, não há na Constituição algo específico sobre preconceito relacionado à aparência, exceto quando há casos de racismo, que é previsto em lei como crime inafiançável. Lúcia acredita que problemas com aparência podem ser estendidos pelo artigo 3º da Constituição Federal, que dita: “Promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Embora Lúcia não tenha muita experiência no assunto, diz que “o preconceito existe, mas no momento que se pratica uma discriminação dessa, a gente ofende o artigo 3º da Constituição Federal”. Dependendo do caso, a pessoa vítima do preconceito, ao se sentir moralmente prejudicada pode recorrer à Justiça, mas o problema, de acordo com o advogado Everson Andrade, 20 nos de profissão, é provar a discriminação. “Processar você pode, por qualquer coisa, mas não se pode denunciar só porque alguém falou. È preciso ter indícios, ter provas”, diz. Andrade ressalta que se puder provar, a vítima do preconceito será indenizada por perdas e danos morais. “A prova pode ser técnica, testemunhal, documental e pericial ainda”, declara o advogado, que faz questão de dizer: “ a discriminação é uma coisa que nós chamamos de norma constitucional em branco, porque prevê que há o ilícito, mas não prevê a pena. No fundo ninguém vai pra cadeia por isso. Acaba ficando papel pra lá, papel pra cá, mas não acontece nada, essa que é a realidade”, desabafa.
Problemas de pele como vitiligo, psoríase, pitiríase e espinhas, por exemplo, também são responsáveis por situações desagradáveis, onde o preconceito é comprovado por pessoas que ignoram as causas de tais patologias julgando, mais uma vez, pelo que vêem apenas. A professora Zilá Marques de Castro, 56 anos, teve vitiligo quando criança e nunca esquece um fato ocorrido na escola, quando sua professora a chamou de barata descascada. “Cheguei em casa e chorei muito, era criança e tímida, mas não deixei que isso me abalasse a ponto de ficar complexada”, declara. João Salgado Júnior, 23 anos, também passou por situação semelhante: “eu tinha uma colega de serviço que nunca quis conversar comigo, mantinha distância. Um dia, ao entrar no departamento de repente, a ouvi dizendo pra outra pessoa que não falava comigo porque tinha nojo das espinhas no meu rosto”.
A reação da vítima do preconceito depende do seu preparo psicológico, de como encara cada situação, mas também varia de acordo com a intensidade com que é manifestado o preconceito. “Tem pessoas que judiam, e isso pode ser extremamente traumático”, diz a Psicóloga e Psicanalista Roseli Machado, há 7 anos atuando na profissão. Os “rótulos”, conforme diz Roseli, são as formas que as pessoas usam para julgar pela aparência, que ganham mais força ainda, na sua opinião, através da mídia, “porque ela impõe um estereótipo de beleza que são, hoje em dia, homens e mulheres magros, altos, enfim...”. Para a Psicóloga, apelidar é preconceito, assim como a utilização de jargões, “porque os outros somam o estereótipo a um comportamento, a uma atitude, e aí é preconceito sim”. Já Silvia Lima Vallochi, Psicóloga há 8 anos, diz que “qualquer tipo de preconceito surge porque a gente não sabe lidar com a diferença”. Ela explica que ser diferente dá para o ser humano a sensação de ser pior: “surge essa busca pelo que a sociedade determina como o ideal”. Silvia atribui o crescente culto ao corpo à busca pela perfeição. “Não é que todo mundo vá correr atrás (da perfeição), vão correr atrás as pessoas que tem essa necessidade de ter sua auto-estima comprovada através do olhar do outro, e não da crença que ela tem de si mesma”, afirma.
uando se valoriza tanto a aparência física, automaticamente cresce o preconceito, porque não são consideradas as qualidades pessoais. Os considerados “bonitos” também passam por isso. ”As pessoas costumam dizer que uma pessoa muito bonita não pode ser intelectual, e vice versa”, diz Roseli. E Silvia completa: “O bonito sofre preconceito da mesma maneira que um “CDF” sofre. Há sempre uma cobrança de ser o bonitinho, o certinho, o educadinho...”. O importante é a valorização do ser humano e ter consciência de que julgar pela aparência , além de não ser um bom recurso, também é preconceito, e pode causar sérios traumas em quem sofre esse tipo, pouco analisado, de discriminação.

Fonte:http://jornalizta.blogspot.com

Um comentário:

  1. Olá Chamo-me Sérgio Daúde e escrevo-lhe de Portugal. Gostei imenso da minha visita ao seu blog e partilho de muitas das suas ideias a respeito da aparência física. Gostaria de convidá-la a visitar o meu blog em www.desigualdadedireitos.blogspot.com para o qual poderá contribuir enriquecendo-o com comentários e sugestões.
    Um abraço Sérgio

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